Com a chegada do filho, o representante comercial Leonardo Carvalho, de 38 anos, teve de desocupar o quarto que usava para guardar suas coisas. A opção foi contratar um espaço num self-storage, espécie de guarda tudo onde ele poderia, além de armazenar documentos, instrumentos e malas, trabalhar, já que a locação dá direito ao espaço do coworking. “Foi providencial”, afirma. Descobertas e impulsionadas pela demanda gerada na pandemia, as empresas que oferecem esse tipo de armazenamento continuam crescendo, e a capital já representa, individualmente, o maior mercado do Brasil, com 135 galpões, segundo a Brain, que desenvolve estudos do mercado imobiliário.
A tendência é de que esse número aumente ainda mais para atender pessoas como a mentora de autoconhecimento feminino Camila Borenstain, 31, e o músico Gustavo Amaral, 35, o Gustavito. Moradora da Vila Mascote, na Zona Sul, Camila decidiu há quatro meses doar parte do que tinha, encaixotar o restante e colocar em um boxe — como são chamados os espaços em um self-storage — para acompanhar Gustavito em uma turnê pela Europa. Na volta ao Brasil, decidiram não ter residência fixa, apenas “seguir o sol”. “Aqui é mais seguro e dá mais tranquilidade, além de poder deixar o tempo que quiser”, afirma Camila.
Comuns nos EUA, os self-storage se diferenciam dos tradicionais guarda-móveis. A principal distinção é que oferecem espaços individualizados, em que a responsabilidade pelo recebimento, manuseio, armazenagem e pela saída das coisas é do próprio cliente. Outro diferencial é que não existe restrição de uso caso o locatário queira exercer a sua atividade profissional ou comercial no local. É o caso da Melhor Envio, uma empresa de intermediação de fretes para quem vende on-line, que instalou minicentros de recebimento de mercadorias em dezesseis unidades de self-storage da capital. “Podemos aumentar ou reduzir os espaços que ocupamos com muito mais facilidade”, diz André Nascimento, 35, diretor de logística da empresa.
“Ter espaço no momento de emergência foi o que as empresas encontraram (devido à pandemia). E o mercado vai continuar crescendo, já que as cidades cada vez mais estão adensadas, as plantas dos apartamentos, cada vez menores, e houve aceleração do comércio eletrônico”, afirma Rafael Cohen, presidente da associação que reúne as empresas do setor, a Abrass.
É por falta de espaço em casa que a advogada Anayara de Azevedo Viviani, 32, continuará usando um boxe. Ela se mudou para o interior para trabalhar por um período e deixou seus móveis armazenados, opção mais barata do que pagar o frete para levá-los. “Como eu ficaria na casa dos meus pais em Lins, nem sei se teria espaço”, diz. De volta a São Paulo, foi buscar parte dos seus objetos, mas ainda deixará alguns em um boxe, já que sua nova casa é parcialmente mobiliada. Em média, o valor de locação do metro quadrado é de 114 reais, segundo a consultoria Brain, e varia de acordo com a demanda.
O espaço de armazenamento pode ser alugado a partir de 1 metro quadrado. Além de móveis de casa, malas e objetos diversos, o empresário e DJ Dre Guazzelli, 35, guarda decorações das festas que promove, equipamentos musicais, mesas de som, de iluminação e ainda bebidas. Neste mês de outubro, prevê se mudar para um apartamento de 180 metros quadrados, e, mesmo assim, continuará usando os boxes. “Aqui já virou uma extensão da minha casa.”
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